Kennyo Ismail, Sênior DeMolay e pesquisador maçônico
Foto: Acervo pessoal
Professor universitário – de graduação e pós-graduação -, Kennyo Ismail tem uma trajetória antiga na Ordem DeMolay. Foi Mestre Conselheiro Estadual de Minas Gerais, após passar por funções como Ilustre Comendador Cavaleiro e Mestre Conselheiro Regional. Nos últimos anos, no entanto, se dedicou à expansão do Rito de York da Maçonaria no Brasil. A motivação para o início dos estudos foi a Ordem DeMolay. “A influência do Rito de York no ritual DeMolay é muito nítida”, explica Ismail. Em entrevista ao DeMolay Brasil, o pesquisador convidado do NP3-CEAM-UnB admite que as similaridades entre os rituais da Ordem DeMolay e o Rito de York diminuem os choques que aconteciam quando um Sênior DeMolay ingressava numa loja do Rito Escocês Antigo e Aceito. Leia a entrevista completa!
 
Como na Ordem DeMolay não existe uma diferença de "ritos", você pode explicar de uma maneira simples o que são essas "nuances ritualísticas"?
Rito é um método de ensino com crenças, valores, cerimônias, estrutura e características próprias, distintas. Fazendo um paralelo à educação formal, há diversos colégios de ensino fundamental, uns adotam o método montessoriano, outros o piagetiano, há ainda o waldorfiano, o tradicional, etc. Da mesma forma, a Maçonaria, como um sistema de ensino de moralidade e ética social, possui diferentes ritos (métodos). Essas diferenças epistemológicas entre os ritos refletem em suas práticas, nessas "nuances ritualísticas", sendo a razão de um (Rito Escocês) correr o tronco de solidariedade, por influência católica, enquanto outro (York) tem o momento "Em Doença e Aflição", porque prevê que uma porcentagem da mensalidade da Loja é destinada obrigatoriamente à caridade.
 
Apesar de não ter diferentes ritos, a Ordem DeMolay foi influenciada diretamente por um. Como funciona essa influência?
Creio ser importante mencionar que ritualisticamente, a Ordem DeMolay foi influenciada apenas pelo Rito de York, mas que o Rito Escocês Antigo e Aceito também serviu de inspiração, mais especificamente em um pouco do conteúdo alegórico dos rituais, mais especificamente do Grau DeMolay. A influência do Rito de York no ritual DeMolay é muito nítida, desde o corpo de oficiais e suas funções, incluindo Capelão e Mordomos, próprios do York e inexistente nos demais ritos; a posição dos oficiais no Capítulo; a nomenclatura de Sala Capitular em vez de Templo; a ordem dos trabalhos; as falas decoradas; a linha intransponível do altar; o momento Em Doença e Aflição; a formação do "brasão simbólico" quando do juramento dos candidatos; dentre tantos outros.
 
O fundador da Ordem DeMolay, Frank Sherman Land, bem como o autor dos rituais, Frank Marshall, eram membros ativos do Rito de York?     
Sim. Ambos foram iniciados em Lojas do Rito de York e galgaram graus do Rito de York antes de ingressarem em outras instituições maçônicas, como o Rito Escocês, Shriners e Estrela do Oriente. Dad Land já era um maçom críptico (denominação dos maçons entre o 8o. e o 10o. grau do Rito de York) quando ingressou no Rito Escocês Antigo e Aceito. Ele era apaixonado pelos graus crípticos (considerado por muitos estudiosos como os graus mais bem escritos de toda a Maçonaria), tendo inclusive ajudado a fundar um novo Conselho Críptico em Kansas City, mesmo durante o auge da Ordem DeMolay, que demandava muito de seu tempo. Essa é uma das razões de eu ter muito orgulho de ser o atual Grão-Mestre dos Maçons Crípticos do Brasil, e das lideranças do Rito de York no Brasil terem tomado esse cuidado de eleger para a diretoria desse segmento do rito apenas irmãos envolvidos com a causa DeMolay, em homenagem a essa paixão de Dad Land pela Maçonaria Críptica. Já Frank Marshall era mais próximo dos outros dois segmentos dos altos graus do Rito de York: o Real Arco e a Cavalaria. Ele presidiu corpos de ambos os seguimentos.
 
O Rito de York iniciou um processo de expansão recente no Brasil. Você acredita que o número de Seniores DeMolays auxilia nessa expansão, já que se notam semelhanças nas práticas ritualísticas?
O Rito de York é simples e objetivo, sem enxertos de alquimia, astrologia, cabala, numerologia, enfim, sem todo o esoterismo e misticismo comuns aos ritos maçônicos latinos. Ele é um belíssimo sistema de ensino de moral teísta, e é essa moral tão pura que encontramos na Ordem DeMolay, em suas Sete Virtudes Cardeais e fórmulas. Assim, acredito que muito de sua rápida expansão se deve a esse fato, ao desinteresse ou mesmo descrença das gerações mais jovens quanto ao místico-esotérico, independente se Sênior ou não. Já o ingresso massivo de Seniores DeMolays em Lojas e Altos Corpos do Rito de York é algo totalmente natural. Você continua sua formação filosófica e moral basicamente no mesmo "método de ensino". Para ilustrar, na minha infância eu estudava em um colégio montessoriano. Quando mudamos de cidade, fui matriculado num colégio tradicional. O choque foi grande e a adaptação foi relativamente difícil. Senti o mesmo quando, enquanto Sênior DeMolay, fui iniciado em uma Loja do Rito Escocês. Isso é um fato comum, que há mais de dez anos venho escutando de muitos DeMolays-maçons. Não foram poucos os que sofreram esse choque, tiveram dificuldades em se adaptar, e confessaram ter pensado em sair da Maçonaria. Alguns inclusive saíram. Então vejo que o Rito de York no Brasil veio atender a uma demanda reprimida.
 
Como estudioso da Maçonaria, como funciona o processo de descoberta de respostas para dúvidas antigas? As literaturas são boas ou existiu muito invencionismo durante algum tempo?
A literatura maçônica brasileira, com raras exceções, era desenvolvida de forma totalmente desprovida de qualquer rigor metodológico ou mesmo referências que a embasasse. Não é à toa que os livros sobre Maçonaria ficam nas prateleiras de "esotéricos" no Brasil. Para confirmar essa afirmação, basta olharem as últimas páginas dos livros mais populares de Maçonaria. Simplesmente não há referências. Ou seja, tudo escrito ali é achismo ou invencionice dos autores. Alguns se apresentam até como "magos". E se observarem bem, verão que se fala mais em "magia" e "energia" nesses livros do que em ferramentas de construção. A maioria dos maçons do mundo nunca nem ouviu falar em magia relacionado à Maçonaria. Nunca viram sequer um incenso sendo queimado em Loja Maçônica. A influência dessa literatura maçônica de fantasia chega a tal ponto que "egrégora" é o termo mais ouvido em Loja Maçônica no Brasil, mesmo não estando presente em nenhum ritual da Ordem. Infelizmente muito desse misticismo tem alcançado até os Capítulos DeMolay, via membros dos conselhos consultivos, distanciando nossos jovens das práticas. Felizmente, nos últimos anos, uma nova geração de pesquisadores e escritores têm surgido, com boa formação acadêmica e mais comprometidos com a qualidade e a seriedade de seus estudos e pesquisas; títulos interessantes têm sido traduzidos por editoras como a Madras e a A Trolha; e periódicos maçônicos de qualidade têm sido publicados. Para mim, esse processo de descoberta ainda é refém quase que exclusivamente da literatura maçônica norte-americana, inglesa e escocesa, feita já há muitas décadas com maior cuidado para com fontes, referências e conteúdo. Espero que, com os anos, essa dependência diminua.
 
Como Sênior DeMolay, fazer parte do Rito de York completa o aprendizado iniciado na instituição juvenil?
Completar é uma palavra forte, pois acredito que esta vida é curta para isso. Mas, com absoluta certeza, dá continuidade e complementa de maneira única. E para ser justo, os Altos Graus do Rito Escocês também.
 
Você recomendaria que Seniores buscassem lojas do Rito de York?
Sim. Um Sênior DeMolay em uma Loja do Rito de York não somente compreenderá melhor características e detalhes da Ordem DeMolay, como se sentirá em casa e, quando servir como membro de conselho consultivo ou em outros postos de liderança adulta na Ordem DeMolay, poderá fazer muito mais pelos Capítulos, por conhecer o cerne do ritual DeMolay, indiscutivelmente feito da seiva do Rito de York.      
 
Qual a mensagem você deixaria para futuros iniciados na Maçonaria?
Quem ama cuida. Se você ama a Ordem DeMolay, garanta seu futuro ao ingressar na Maçonaria. Sem Lojas patrocinadoras não há Capítulos. Sem conselho consultivo não há reuniões. Mas não queira ingressar na Maçonaria apenas pela Ordem DeMolay. Faça isso por você e pela sociedade em que está inserido também, pois na Maçonaria você poderá se autodesenvolver moral e intelectualmente e se unir a outras pessoas de bem, que buscam colaborar para com a felicidade da sociedade.

Faça parte da
Ordem DeMolay